Comentário - "A melhor profissão do mundo" - Gabriel García Márquez

quinta-feira, 5 de novembro de 2009


O ponto de vista crítico acerca da formação jornalística, e da profissão jornalismo, dá o tom do texto de Gabriel García Márquez. E, de fato, é coerente com o que se apresenta na atualidade. A tão discutida mercantilização do ensino infelizmente é um processo que estimula e encabeça a inabilidade dos recém saídos do curso superior de jornalismo, aliás, não só deste, mas como de qualquer curso superior.

Os aspectos técnico-científicos, muitas vezes insuficientes, são importantíssimos para a construção de qualquer profissão; mas a experiência, vivência, a formação cultural não é fornecida nas escolas superiores. Formação cultural que o autor preconiza como essencial para a prática jornalística. A leitura como hábito frequente é portal para aquisição de conhecimento e da capacidade de análise crítica do conteúdo que se lê, como o próprio García Marquez cita que em muitos casos os iniciantes na profissão são desprovidos dessa capacidade: “Em sua maioria, os formados chegam com deficiências flagrantes, têm graves problemas de gramática e ortografia, e dificuldades para uma compreensão reflexiva dos textos”.

A necessidade cega de ferir contra a ética tem como baluarte a própria estrutura da profissão, da notícia em primeira mão, propalada a qualquer custo. No entanto o autor infere que o melhor resultado não obrigatoriamente será a notícia em primeira mão, e sim a que for mais bem trabalhada.

Outro fator importante para o declínio na qualidade do jornalismo está na condição díspar entre o avanço tecnológico e, detrimento da formação da máquina principal, que é o profissional do jornalismo em si. O avanço tem “servido para antecipar e agravar a agonia cotidiana do horário de fechamento”, mas em contrapartida trouxe o dinamismo, a velocidade informacional jamais imaginada.

Todas as adversidades enumeradas pelo texto são de algum modo equivalentes em todas as profissões. Não há no mundo qualquer profissão em que não se encontre problemas de diversas ordens. A responsabilidade de efetuar um bom trabalho é comum a todas. Dificuldades podem sim ser superadas por aqueles que têm amor pelo que desempenham.

2 comentários:

Nina disse...

'Dificuldades podem sim ser superadas por aqueles que têm amor pelo que desempenham." [2]

Se não fosse por isso, talvez muitas profissões tenham sumido.

O jornalismo, hoje, tá tão mecânico, que eu penso que as pessoas não fazem mais por gostar, mas porque existe a necessidade de ganhar dinheiro de alguma forma. Aì, esquece-se ética, humanismo e todos esses valores morais importantíssimos para qualquer profissão.

Enfim, sem mais. :'D

Gabrielle Alano disse...

Concordo.

Como Nina disse, ganhar dinheiro de alguma forma, mesmo que seja por apelação como vemos em muitos programas e jornais sensacionalistas. Aí vem a questão: é pra isso que o jornalismo mudando?